Festa de Cosme e Damião traz louvação às Crianças do Astral nos terreiros
Setembro é um mês alegre e colorido. E não é apenas pela chegada da Primavera. Nesta época os olhos de muitos filhos de umbanda parecem brilhar de alegria, principalmente as crianças. Neste mês comemora-se o dia de São Cosme e São Damião, que na Umbanda são representados pela linha das chamadas Ibejadas.
O termo “Ibejadas” vem de Ibejis, variação do termo yorubá “Igbeji” que quer dizer gêmeos. Por isso, pela cultura do sincrestismo religioso, fazemos a ligação das Ibejadas a São Cosme e São Damião, santos gêmeos do catolicismo.
Apesar do dia de São Cosme e São Damião ser oficialmente no dia 26 de setembro pelo calendário católico, no Brasil a festa em louvação aos santos gêmeos ganha mais força no dia 27. Isso porque vários terreiros de Umbanda festejam o dia das Ibejadas, fazendo a tradicional distribuição de doces. Ninguém sabe ao certo onde, nem como teria surgido essa tradição de dar doces para as crianças no dia de Cosme e Damião. Mas é uma prática ainda muito comum e popular, principalmente no Rio de Janeiro. Em algumas regiões do país, e principalmente nos barracões de candomblé, são preparados os carurus, comida típica afrobrasileira, para serem ofertados aos “erês” (termo em iorubá que quer dizer “criança”).
Outra curiosidade é que na imagem original católica só aparecem os dois santos, enquanto que na imagem utilizada pelos irmãos umbandistas aparece uma criancinha entre os dois santos, vestida como eles. Essa criança é chamada de Doum ou Idowu, que personifica as crianças de até sete anos de idade, sendo ele o protetor dos pequenos nessa faixa etária.
Porém, a intolerância religiosa pregada por alguns seguimentos neopentecostais vem ameaçando essa tradição popular. Num blog chamado “Arsenal do Crente”, o autor da página acusa os Umbandistas de “idolatria”, e afirma que a distribuição de doces estaria “cultuando a demônios que lançam sementes das trevas e de morte na vida de milhões de pessoas”.
Outro site, da Comunidade Evangélica Academia da Fé, publica uma matéria sobre Cosme e Damião que “o ato de dar doces é uma ação poderosa do diabo em fisgar o coração das nossas crianças”, afirmando que nas guloseimas estariam contidas milhares de maldições.
“Infelizmente essa perseguição das igrejas neopetencostais é uma dura e cruel realidade”, lamenta o CCT Cristiano Queiroz. “A disseminação da ignorância e da exploração da fé está distruindo não apenas um ato religioso, mas uma tradição cultural”, completou o dirigente da SEFA.
Mesmo senda alvo de críticas, a distribuição dos doces de Cosme e Damião é uma tradição que se mantém cada vez mais forte e viva no coração da população e dos filhos de fé. E a SEFA realiza a distribuição dos doces dentro da Festa das Ibejadas, que será realizada no dia 28 de setembro, sábado, a partir das 15h.