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A Seara Espiritualista Falangeiros da Aruanda - SEFA - é uma Organização Religiosa de Umbanda, que traz como base doutrinária a Escola de Caboclo Mirim. Nosso objetivo é seguir os princípios fundamentais da Umbanda e seus ensinamentos na prática da caridade. Nossa Matriz fica no bairro de Piedade, e nossas filiais em Sampaio e Vila Isabel (Rio de Janeiro)

domingo, 21 de abril de 2013

Entrevista - Pedro Miranda: Presidente da União Espiritista de Umbanda do Brasil

Além de estar à frente da mais antiga organização representante de nossa religião, aos 75 anos ele é dirigente de dois terreiros e trabalha como advogado - inclusive prestando assistência jurídica gratuita. Pedro Miranda é uma enciclopédia viva da Umbanda. Também pudera: é um dos poucos sobreviventes a terem convivido estreitamente com o Caboclo das Sete Encruzilhadas e seu médium Zélio Fernandino de Moraes e o Caboclo Mirim e seu médium Benjamin Figueiredo. Ele recebeu a equipe do Nossa Seara para um papo simples, mas que adentrou a noite, tamanha a riqueza de informações. 

Acompanhe a entrevista completa!


Como o senhor define a Umbanda?
A Umbanda é uma revelação espiritual. Ela não foi criada, foi revelada para nós. Uma coisa que ouvi ao longo da minha caminhada é que a “Umbanda é Jesus trabalhando”. E isso é a coisa mais certa, já que o nosso ideal é a caridade. Somos chamados à simplicidade, à humildade e à naturalidade da mensagem fraterna. Há dois marcos nesse sentido, que são duas frases: “A Umbanda é coisa séria para quem quer ser sério”, do Caboclo Mirim; e “Umbanda é manifestação do espírito para a prática da caridade”, do Caboclo das Sete Encruzilhadas. Isso resume tudo. Nós não temos dogmas, não criticamos a quem quer que seja, Aceitamos e respeitamos cada criatura como cada criatura o é. Curioso é que uma vez perguntei a uma preta velha o que era a Umbanda. Ela me falou: “Levanta, olha para lá”, e apontou a gira. “Tá vendo aquele ali? É lixeiro. Aquele ali é carvoeiro. Aquele lá é doutor, cuida dos outros. Aquela lá é lavadeira. Aquele ali é professor. Agora estão aqui, tá tudo igual. Isso é Umbanda”.

E qual o senhor acredita que é o papel da Umbanda hoje em dia?
Nós temos por obrigação criar condições aos médiuns e assistentes de desenvolver o seu lado mental. Se não, vamos ficar para trás. Temos que evoluir mentalmente para nos colocarmos em melhores condições de entrar em sintonia com a espiritualidade. Eu já vi casos em que recados necessários foram dados de forma equivocada, provavelmente por que o médium não estava numa condição mental mais elevada. Faltou habilidade mental para absorver o que a entidade estava transmitindo. Isso gerou um mal estar, embora a entidade estivesse certa em seu recado. Inclusive sempre falo aos médiuns: não gostou de algo que a entidade disse? Converse com ela, de forma respeitosa sempre, mas de igual para igual. Diga o que está sentindo.


Nesse sentido de trabalhar o mental, o que o senhor acha que já evoluímos e não é mais necessário em nossa religião?
Nós tivemos um tempo de fazer as chamadas “obrigações”, que já passou. Isso nos limita. E a vida não são limitações. Hoje, infelizmente, ainda vemos em matas e praias alguidares, garrafas, sacrifícios de animais, que apenas quebram a energia da corrente e do ambiente. Numa praia suja de oferendas, Iemajá já se mandou faz tempo! (risos) Iemanjá precisa de pente? De espelho? Claro que não. 

E o que o senhor acha que tem que ser feito?
As mensagens deixadas pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas e o Caboclo Mirim nos deixam claro que temos muito ainda pra fazer. Acredito que o nosso planeta vai alcançar um patamar de equilíbrio e nós umbandistas temos muito a contribuir para isso. Vivemos um fenômeno muito interessante de formação de diversas tendas de Umbanda com pessoas fisicamente jovens, mas espiritualmente mais preparadas e evoluídas. Isso vai recolocar a Umbanda em sua estrada original e vai contribuir para o planeta.

O senhor acha que os próprios médiuns umbandistas contribuíram para os preconceitos históricos com a nossa religião?
Sim. Vou dar um exemplo: em 1940, um médium da Tenda Espírita São Jorge, Henrique Pinto, trabalhava com Tranca Rua da Almas. Ele deixou um recado num ponto cantado que falava em Jesus. Se os irmãos não entenderam, é uma pena. Não temos capetas. Não existe diabo. Não existe Satanás. Entretanto nós mesmos falávamos que o Exu era o diabo. Antes de nos sentirmos magoados, temos que nos redimir de nossas próprias falhas. Jesus falava em parábolas e até hoje a humanidade não entendeu as palavras de Jesus.

E o Exu justamente é a entidade mais mistificada de todas...
Sempre foi. A Tenda Nossa Senhora da Piedade (primeiro terreiro de Umbanda a se ter registro), a Tenda Mirim, os Caminheiros da Verdade, por exemplo, não tinham gira de Exu. A Tenda Espírita São Jorge sempre teve, embora também tivesse sido fundada pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas, mesmo fundador da Nossa Senhora da Piedade. Mas pra essa gira apagavam-se as luzes, fechavam as cortinas e não tinha assistência. Eu nunca aceitei isso. Se a Umbanda fala em Jesus, Maria e caridade, não admitia que houvesse entidade que não trabalhasse na caridade e era isso que estávamos passando com esses gestos.

Como o senhor veio parar à frente da UEUB?
Foi num impasse. Na época, eu nem estava à frente de terreiro algum (hoje em dia, ele é dirigente e fundador da Cabana do Mestre Omulu e dirige a Tenda Espírita São Jorge, fundada pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas). Meu nome acabou indicado, mas desagradou por esse motivo. Depois de um tempo que a União ficou sem administração efetiva, fui reconduzido e aqui estou, há cerca de 30 anos. Não me considero um gestor, mas, sim, um religioso.

E nesse tempo à frente da União, o que o senhor destaca como mais curioso, de forma geral, nos terreiros que conheceu em sua função?
Eu viajei todas as capitais do Brasil e sempre dei um jeito de ir a uma macumba, do Amazonas ao Rio Grande do Sul (risos). Em todas as tendas que visitei, notava que em qualquer lugar do país, quando o médium trabalhava com preto velho, ele se curvava. Por quê? O tempo me deixou claro que os pretos velhos ensinam sem nada falar, silenciosamente. Quando eles nos curvam, estão nos ensinando que perante o Pai somos todos iguais, não há grandes ou pequenos. Uma verdadeira lição de humildade.

O senhor fez várias referências ao Caboclo das Sete Encruzilhadas e ao Caboclo Mirim. Como era a convivência com essas entidades e seus médiuns?
Era de grande aprendizado. Tanto que sempre me reporto a eles. Lembro muito também do Pai Antônio (preto velho de Zélio de Moraes) que dizia que “a Umbanda é pra quem tem”. Por isso, nunca me assustei com o processo de “abandono” de algumas pessoas, que queimaram suas roupas e jogaram suas guias fora quando se ampliou o movimento evangélico neopentecostal no Brasil. Essas pessoas não fizeram falta, porque “não tinham”. Do Caboclo Mirim, lembro muito das giras em que o senhor Benjamin vinha aqui na UEUB, quando o chão ainda era de barro. Ele foi e é um marco histórico no processo evolutivo da Umbanda, pois deixou uma escola como legado. Infelizmente alguns irmãos se desviaram um pouco do caminho deixado por ele e não sabem a dívida kármica que estão adquirindo.

Qual o papel da UEUB hoje em dia?
A União tem uma relação de mais de 300 terreiros e tendas catalogados e buscamos manter o diálogo com eles para a defesa de nossa religião (a UEUB é herdeira da Federação Espírita de Umbanda, fundada em 1939 para defender o culto diante da ditadura de Getúlio Vargas). A UEUB tem diversos terreiros que realizam suas atividades em nosso ginásio e esse espaço é para isso mesmo. Somos a Casa-Máter da Umbanda. Não vejo conflito nisso porque uma tenda de Umbanda não é só as suas paredes. Ela é plasmada no plano espiritual e, aos poucos, vai se aproximando do plano terrestre, sendo entregue ao seu dirigente. Aos poucos, outros irmãos se unem para formar essa família espiritual. Enquanto precisarem de nós para isso, podem contar.

Qual a mensagem o senhor deixa para os novos médiuns que chegam à Umbanda?
Cada um de nós temos nossa vida terrena e o exercício da espiritualidade. A única coisa que não se recupera na vida é o tempo perdido. Nós umbandistas não temos tempo para perder tempo.


Um comentário:

  1. Ola amigos, acabo de ler a bela entrevista de voces com "Seu"Pedro. Fui medium por muitos anos da TESJ e da Cabana do Mestre Omulu, sempre seguindo ele. Hoje me encontro fora do Brasil e finalmente encontro a oportunidade de re-encontrar meus queridos amigos de quem me afastei a quase 20 anos. Gostaria de perdir se voces poderiam fazer contato comigo, atraves do email l_cirilo@hotmail.com. Eu gostaria muito de voltar a fazer contato com o sr Pedro e o Presidente da TESJ, Tico, que comecou na tenda na mesma epoca que eu. Agradeco imensamente a ajuda de voces! Muita Luz! Liana

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