Toda terça-feira acontece em Salvador uma das mais
famosas manifestações de fé, respeito e integração entre as religiões: a benção
do Pelourinho.
A celebração é feita na Igreja de Nossa Senhora do
Rosário dos Pretos, situada no centro histórico de Salvador, no chamado Largo
do Pelourinho, um dos pontos turísticos mais visitados da capital baiana.
O nome da igreja deve-se ao fato de ser uma das
primeiras a serem construídas por uma irmandade de negros alforriados. Naquela
época, somente os brancos poderiam entrar nas igrejas. Os negros eram
proibidos, por se acreditar que eles não tinham alma ou eram seres inferiores.
A igreja começou a ser construída em 1704, e concluída em 1780.
Atualmente ela é um símbolo de
resistência dos negros na luta pela liberdade e também da preservação da sua
cultura. Nos fundos da igreja existe um antigo cemitério de escravos.
Preservando sua história ligada aos negros, a liturgia dos cultos faz uso de
música inspirada nos terreiros de Candomblé.
A missa é celebrada em homenagem a
Santo Antônio de Categeró, que é um santo negro e foi escravo, e conjuga a
liturgia católica com os cultos afro. No início da missa é passado defumador
com incenso. O coral da igreja entoa todos os cânticos ao som de atabaques,
timbal e agogô. No momento do ofertório entram devotos carregando cestas de
pães (primeiro mulheres e depois homens), que são colocadas no altar para que
os pães sejam benzidos.
Ao final da missa os pães são
distribuídos entre os devotos, ao mesmo tempo em que o padre dá a benção aos
fiéis, utilizando galhos de aroeira com água benta. E na despedida, todos
respondem: “Amém e Axé”.
Em sua página na rede social, a fotógrafa Helenitta Monte de Hollanda escreve sobre a missa de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos:
"Quando estudávamos e fotografávamos as
igrejas baianas para o fazimento do livro BASÍLICAS E CAPELINHAS, fomos,
eu e meu marido, à missa dominical na Igreja de Nossa Senhora do
Rosário dos Homens Pretos do Pelourinho. Era o dia de Santo Antonio.
Igreja lotadíssima, e, aí, o inusitado – os músicos não apareceram. Do
altar, o padre, negro, exclamou: 'não há missa nesta igreja sem
batuque!' Incontinenti, batuqueiros de plantão, como só na Bahia tem,
tomaram os instrumentos e a missa começou. Nunca vi liturgia mais
bonita!"
A
iniciativa em celebrar um culto a Santo Antonio de Categeró toda terça-feira e
utilizando os mesmos instrumentos que são tocados no candomblé foi do Padre
Alfredo, que foi responsável pela Igreja do Rosário dos Pretos na década de
1980. Desde então a missa se tornou tradição, sobretudo para moradores do
Centro Histórico e arredores, muitos devotos do santo negro. Nas datas comemorativas de Santa
Bárbara e Iansã a igreja é o ponto central dos festejos, confirmando mais uma
vez a referência do templo como união da liturgia católica e dos cultos afro.
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