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quinta-feira, 16 de maio de 2013

Missa sincrética




Toda terça-feira acontece em Salvador uma das mais famosas manifestações de fé, respeito e integração entre as religiões: a benção do Pelourinho.
A celebração é feita na Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, situada no centro histórico de Salvador, no chamado Largo do Pelourinho, um dos pontos turísticos mais visitados da capital baiana.
O nome da igreja deve-se ao fato de ser uma das primeiras a serem construídas por uma irmandade de negros alforriados. Naquela época, somente os brancos poderiam entrar nas igrejas. Os negros eram proibidos, por se acreditar que eles não tinham alma ou eram seres inferiores. A igreja começou a ser construída em 1704, e concluída em 1780.


Atualmente ela é um símbolo de resistência dos negros na luta pela liberdade e também da preservação da sua cultura. Nos fundos da igreja existe um antigo cemitério de escravos. Preservando sua história ligada aos negros, a liturgia dos cultos faz uso de música inspirada nos terreiros de Candomblé.
A missa é celebrada em homenagem a Santo Antônio de Categeró, que é um santo negro e foi escravo, e conjuga a liturgia católica com os cultos afro. No início da missa é passado defumador com incenso. O coral da igreja entoa todos os cânticos ao som de atabaques, timbal e agogô. No momento do ofertório entram devotos carregando cestas de pães (primeiro mulheres e depois homens), que são colocadas no altar para que os pães sejam benzidos.
Ao final da missa os pães são distribuídos entre os devotos, ao mesmo tempo em que o padre dá a benção aos fiéis, utilizando galhos de aroeira com água benta. E na despedida, todos respondem: “Amém e Axé”.
Em sua página na rede social, a fotógrafa Helenitta Monte de Hollanda escreve sobre a missa de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos:
"Quando estudávamos e fotografávamos as igrejas baianas para o fazimento do livro BASÍLICAS E CAPELINHAS, fomos, eu e meu marido, à missa dominical na Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos do Pelourinho. Era o dia de Santo Antonio. Igreja lotadíssima, e, aí, o inusitado – os músicos não apareceram. Do altar, o padre, negro, exclamou: 'não há missa nesta igreja sem batuque!' Incontinenti, batuqueiros de plantão, como só na Bahia tem, tomaram os instrumentos e a missa começou. Nunca vi liturgia mais bonita!"

 
A iniciativa em celebrar um culto a Santo Antonio de Categeró toda terça-feira e utilizando os mesmos instrumentos que são tocados no candomblé foi do Padre Alfredo, que foi responsável pela Igreja do Rosário dos Pretos na década de 1980. Desde então a missa se tornou tradição, sobretudo para moradores do Centro Histórico e arredores, muitos devotos do santo negro. Nas datas comemorativas de Santa Bárbara e Iansã a igreja é o ponto central dos festejos, confirmando mais uma vez a referência do templo como união da liturgia católica e dos cultos afro.

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