Constantemente nos
deparamos com a seguinte situação: um irmão de corrente bastante frequente, por
um problema qualquer (pode ser trabalho, estudo ou mesmo família), para de vir
às sessões do terreiro. Como dirigente, naturalmente busco entender os motivos
e aguardo a situação se desenrolar. Mas por vezes o tempo passa e o médium
acaba por se fazer tão ausente que começa a estar mais fora do que dentro da
corrente. Procuramos entrar em contato para compreender o que está se passando
novamente e ver se podemos ajudar. E o irmão, mesmo reafirmando sua vontade de
permanecer na Casa e seu amor por ela, prefere se afastar, pois não está
conseguindo conciliar a vida pessoal/profissional/acadêmica com o terreiro.
Costumamos ouvir o discurso que para estar na tenda é para estar “direito”,
“100%”, e como não consegue se dedicar do jeito que desejaria, opta-se pela
saída.
A Casa religiosa acaba
sendo a primeira a sofrer o “corte” nas prioridades. Como se, para um
religioso, a sua crença não fosse tão basal para a sua vida como o seu
relacionamento amoroso, a sua família, os seus amigos e a sua carreira. Uma
religião é o ponto de equilíbrio de uma pessoa, quando bem utilizada; muitas
das vezes, o cimento que falta para unir todos esses tijolos e construir uma
vida firme e bem estruturada. Porém, infelizmente, para alguns é vista como
mais supérflua do que outros compromissos. Ou tão imaculada que não pode ter
falta alguma; logo, se não dá para ir a todos os trabalhos, prefere-se não ir a
nenhum.
A grande arte nessa
questão é saber envergar, e não quebrar. É encontrar o 44 entre o 8 e o 80. O
exato ponto de equilíbrio para seguir adiante. Para uma Casa Umbandista,
certamente é mais valioso ter um irmão de corrente que não vai a todas as
sessões, mas quando vai o faz de coração, com total entrega e altruísmo; e que
quando se ausenta busca saber como as coisas andam por lá; a ter um que apenas
bate o seu ponto e pensa somente em si e nas suas próprias entidades.
Portanto, se você
gostaria de ir a todos os trabalhos do seu terreiro mas não pode, não se abale.
Converse com o dirigente, busque encontrar uma solução em vez de puramente se
afastar. Uma vez ao mês, que seja, já é uma forma de manter a sua energia em
movimento e o mínimo de integração com a Casa. E, assim que possível, busque
retornar à sua frequência normal.
Quando falo em saber
envergar, encontrar um equilíbrio, não vale somente para presença, mas também
para uma série de coisas: na compreensão com os irmãos de corrente; no bom
convívio com a assistência; no revezamento com o seu cônjuge caso haja alguma
responsabilidade familiar; no entendimento das diferenças que cada um carrega
consigo; entre muitas outras coisas.
O mais importante de
tudo isso é buscarmos em nossa Umbanda o nosso manancial para sermos pessoas
melhores. E um dos grandes desafios para isso é sabermos sermos mais maleáveis,
tolerantes e equilibrados.
CCT Paulo Henrique Brazão
Morubixaba - Comandante da SEFA filial Sampaio
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