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A Seara Espiritualista Falangeiros da Aruanda - SEFA - é uma Organização Religiosa de Umbanda, que traz como base doutrinária a Escola de Caboclo Mirim. Nosso objetivo é seguir os princípios fundamentais da Umbanda e seus ensinamentos na prática da caridade. Nossa Matriz fica no bairro de Piedade, e nossas filiais em Sampaio e Vila Isabel (Rio de Janeiro)

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Os perigos do médium que se afasta da corrente

Fora da caridade não há salvação.



Mas é preciso entender o que é caridade. Na última sessão que tivemos na nossa Matriz, o Caboclo Sete Estrelas nos disse: “caridade não é você dar o que sobra, mas compartilhar o que tem. Quando você dá o que sobra, você está dando um fim para aquilo não lhe faz falta.”

Outro ponto que o Caboclo frisou é na questão do tempo dedicado à caridade. “Há filhos que se dispõem do seu tempo para estarem no terreiro praticando a caridade. Outros filhos só vem ao terreiro se não tiver nada programado.” Nesse caso, segundo o Caboclo, não está dedicando seu tempo à caridade, está preenchendo aquele último espaço de tempo que sobrou com alguma coisa. Do tipo “vou ali no terreiro sarava um pouquinho, já que não surgiu nada para fazer.”

E é uma triste verdade. O médium de Umbanda é muito mal acostumado a não comparecer no terreiro. Ou só lembrar quando as coisas apertam.
Caboclo Mirim sempre nos alerta que, quando ingressamos em um trabalho espiritual num terreiro, passamos por três estágios.

O primeiro estágio é o da empolgação. O médium vê o terreiro todo bonito, vários irmãos trabalhando com seus Caboclos, Pretos Velhos, Ibejadas, todos girando no terreiro... Pede logo para entrar, veste o branco e vai todo alegre. Muitos achando que tudo será um mar de rosas, que todos os problemas serão resolvidos, agora que ele é “oficialmente do santo”.
Já houve médium que com um mês de Casa chegou para mim e disse: “Quero ser um CCT que nem você.” Eu disse de volta: “Não peça isso! Mas se essa for sua missão, peça que seus guias te preparem, te deem paciência, sabedoria, disciplina e, principalmente... perseverança.”
Infelizmente médiuns assim, na mesma empolgação que se vêm tão rápido se vão, porque não buscam preparo para a segunda fase do trabalho mediúnico.

O segundo estágio é do desânimo. O médium começa a ver que precisa se comprometer com a Casa, que precisa se doar, precisa estudar a doutrina, precisa compartilhar as tarefas com seus irmãos, precisa entender as reais necessidades do terreiro naquele trabalho específico para melhor atende-las. A partir daí, os seus problemas começam a falar mais alto: financeiros, familiares, trabalho, tempo, tempo, tempo...
E qualquer desculpa vira uma bengala para o médium não estar presente: calor, frio, chuva, trânsito, trabalho, dor de cabeça, dor de garganta, dor de barriga, dor no pé, briga com pai, briga com mãe, briga com marido, briga no trânsito... Enfim, o médium vai ficando tão acostumado a faltar o terreiro, que ele vê isso como algo normal, num perigoso ciclo de auto boicote ao seu próprio trabalho mediúnico.
Uma coisa é certa. Para um bom desenvolvimento espiritual, precisamos de duas coisas: estudo teórico e atividade prática. E isso só se faz dentro do terreiro. O médium que permanece muito tempo afastado do terreiro, por mais que sinta falta, vai se permitindo ficar nessa condição. Em resumo, ele fica de fora, vai ficando cada vez mais de fora, e quando se vê ele já está fora. Alguns chegam a ser injustos, dizendo que não foi acolhido pelo dirigente, ou ainda que a Casa lhe “virou as costas”.
E aí, o médium cai nos perigos do ego ferido, passa a dar ouvidos a pessoas tão desorientadas quanto eles, alimentando uma revolta sem causa alguma. Há ainda aqueles que caem no perigoso jogo do afastamento pela entidade, alegando que sua entidade o tirou de lá. Esse pode estar dando ouvidos a espíritos mistificadores, e por estar tão afastado da sintonia da corrente mediúnica e cego pelos seus próprios sentimentos pequenos, não consegue distinguir o que é da sua entidade e o que não é da sua entidade. Muitos acabam se revoltando até com a própria Umbanda.

Ora, meus irmãos. Não dá para acolher quem não comparece. Uma coisa é certa: TODOS NÓS TEMOS PROBLEMAS. O que vai definir a gravidade do seu problema é o tamanho da gravidade que você dá para ele. Vejam o exemplo dos atletas paralímpicos. Pessoas que superam reais dificuldades, muitas vezes com acessos restritos num mundo em que ser diferente ainda não é normal.

E quando o médium tem a consciência de que ele é o único capaz de superar suas próprias provações, seguindo adiante ele passa para o terceiro estágio, que é o da confirmação. É quando ele tem a consciência de que na Espiritualidade nada é imposto. Tudo tem o peso do livre arbítrio. Então se ele escolheu praticar a caridade e desenvolver sua mediunidade num templo religioso, deve se dedicar a essa missão. Para receber é preciso se doar. Na vida, nada vem se não for por merecimento.
Mas quando estamos cientes de que a caminhada, apesar de difícil, é prazerosa e muito nos ensina, damos um grande passo em nosso desenvolvimento espiritual. E recebemos muitas graças da Providência Divina. Você pode até não enxergar isso agora. Mas com certeza o tempo lhe dirá e lhe mostrará pela sua obra o caminho que você trilhou.

E se, mesmo após o terceiro estágio, você sentir alguma recaída (afinal, somos humanos), procure o seu dirigente (aqui na SEFA procure o seu Morubixaba ou o Tupixaba), peça ajuda, um conselho, uma palavra. Tenho certeza de que ele buscará, junto com você, ajudar a vencer as dificuldades. Mas lembre-se também que seu dirigente também é um ser humano, também tem os seus problemas e também precisa ser ajudado.

Para finalizar ressalto sempre as palavras de Pai Anastácio: “O Terreiro é o abrigo onde o filho de fé encontra proteção no meio das tempestades da vida”.

Vamos refletir sobre o queremos de nós mesmos dentro da nossa religião. Pois assim como esperamos algo da Espiritualidade, a Espiritualidade igualmente espera algo de nós.

Meu saravá fraterno.

CCT Cristiano Queiroz
Tupixaba da SEFA

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